domingo, 28 de março de 2010

Em MS, Lula deve anunciar devolução de canhão paraguaio


Ângela Kempfer e Aline dos Santos

Divulgação
Canhão está hoje no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.

No dia 30 de abril, durante viagem a Mato Grosso do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode anunciar oficialmente a devolução ao Paraguai de um troféu de guerra: o “Cristiano”, ou “Cristão”, canhão feito de sinos de igrejas, um dos símbolos da vitória do Brasil na Guerra do Paraguai.

Há décadas é um objeto de discórdia entre historiadores dos dois países. Mas neste mês, quando o Cristão completa 140 anos no Brasil, o Ministério da Cultura surpreendeu os paraguaios a anunciar no dia 23 de março que o presidente Lula já confirmou a devolução do troféu de guerra.

Agora, será necessário o “destombamento” da arma, já considerada patrimônio histórico e cultural brasileiro. Em nota publicada no site do Minc, a informação é de que esse processo já está em andamento, para que o anúncio oficial seja feito na próxima visita oficial ao Paraguai, marcada para abril, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

Apelo - O assunto voltou à tona durante as comemorações do fim do conflito, em discurso do vice-presidente Federico Franco. "O país nunca vai cicatrizar a ferida se o Brasil não devolver o arquivo militar e o canhão Cristão, que devem retornar ao Paraguai para que se inicie a cicatrização do povo paraguaio".

Pela segunda vez no mandato do presidente Lula, o vice, presidente em exercício por conta de viagem de Fernando Lugo ao Uruguai, lembrou que os outros países envolvidos no confronto já devolveram o que retiraram depois da guerra.
”Espero que a mensagem chegue a Lula, para que as devoluções sejam feitas logo. É incrível que o Brasil mantenha ainda troféus da guerra, quando a Argentina e o Uruguai devolveram as últimas recordações”, protestou.

Hoje o canhão de 12 toneladas está no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, no pátio dos canhões. O Cristão traduz um pouco o que foi a Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870.

Devastado depois de 3 anos de guerra, em 1868, lutando sozinho contra Brasil, Argentina e Uruguai, sem material para produzir armamento pesado, o Paraguai apelou para os sinos das igrejas. Derreteu o metal e o transformou no canhão que bravamente colaborou na resistência a ocupação de Assunção.

No Museu Histórico Nacional brasileiro, placas expostas de 2 centímetros de aço, do que já foi um navio de guerra, ainda exibem as marcas deixadas pelos tiros do “El Cristiano”.

O “troféu” tem um significado especial por representar a captura do ditador Solano López. As convenções não obrigam o Brasil os troféus de guerra, mas o presidente Lula, devido ao discurso humanista e aproximação com Fernando Lugo, eleito no Paraguai, já decidiu que desta vez a devolução será consumada.

“Nenhum país devolve seu troféus de guerra”, reclama o historiador Milton Teixeira, do Rio de Janeiro.

Apesar dos contra, o historiador carioca Marco Morel defendeu a decisão de Lula. "É uma questão delicada que envolve a legitimidade de um país se apropriar de bens históricos e culturais do outra nação".

Os paraguaios também querem arquivos sobre a guerra, mas essa discussão ainda não evoluiu.

O assunto virou fórum de discussão na internet, a maioria favorável à devolução, mas com condições.

Há quem defenda uma troca. Perto de Assunção há um memorial com navios que participaram da Guerra do Paraguai, entre os quais, brasileiros, como o navio Rio de Janeiro.

Visita a MS - De acordo com a assessoria de comunicação da presidência, para o dia 30 de abril está agendada uma reunião entre Lula e o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em Ponta Porã, localizada na fronteira com o país vizinho.

O tema da reunião será a hidrelétrica de Itaipu. O governo paraguaio defende maior benefício no aproveitamento conjunto da represa, a maior do mundo em funcionamento.