sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Um recado militar ao Paraguai (Carlos Chagas - Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - Caso Barack Obama se disponha mesmo a mudanças, e se incluir nelas um novo tipo de relacionamento dos Estados Unidos com a América Latina, seria bom que visitasse o Paraguai, ou pelo menos telefonasse para o presidente Fernando Lugo, recomendando-lhe cautela.

Porque o ex-bispo vem se referindo ao Brasil com palavras de baixo calão, ditas abertamente, acusando-nos de imperialistas, exploradores e usurpadores da soberania de seu país. Mais ainda, manda seus esbirros não pouparem o próprio presidente Lula, como fez o representante paraguaio na diretoria de Itaipu, em entrevista a um jornal local.

Querem o impossível, os detentores do poder em Assunção, ou seja, o rompimento do contrato assinado quando da construção da usina, para a qual contribuíram apenas com a água do rio. Exigem aumento desmesurado na energia a que têm direito e não utilizam, revendendo-a para o Brasil. Pretendem fazer leilão, contrariando o acordo, para vender à Argentina e ao Chile essa energia produzida por nós. Ameaçam, xingam e intranqüilizam.

Por conta dessa provocação, duas semanas atrás o Exército brasileiro programou e realizou nas instalações de Itaipu manobra de rotina, mas eivada de simbolismo. Nossos soldados ocuparam a usina numa operação de comandos, simulando sua retomada diante da ocupação fictícia "de um grupo de sem-terras". Nada de surpreendente, porque o MST já ocupou mais de uma usina, nos últimos tempos. No entanto, foi um recado aos paraguaios, de que se tentarem algo inusitado a pretexto de defender suas prerrogativas serão derrotados em quinze minutos.

O lance pitoresco nessa história correu por conta do embaixador brasileiro no Paraguai, Valter Pecly, que sem a menor sensibilidade lamentou que as manobras do Exército brasileiro não tivessem sido feitas em conjunto com o Exército paraguaio, já que o presidente Fernando Lugo não gostou nem um pouco da nossa movimentação.
Não se emenda

Esta semana em Tucuruí, no Pará, o presidente Lula demonstrou que não se emenda mesmo. Sem mais aquela, num de seus discursos, afirmou que as manchetes dos jornais só reproduzem notícias ruins, como se nada acontecesse de bom no País.

É aquela velha história que se aprende nos cursos de comunicação: como regra, notícia é o inusitado, é o que acontece acima e além da rotina. Se um cachorro morde um homem, não é notícia, a não ser que um pitbull tenha estraçalhado alguém. Agora, se um homem morde um cachorro, vai para as páginas de jornal.

Divulgar que os aviões estão saindo na hora ou que os operários trabalharam normalmente em determinada fábrica não é notícia, a menos, como no caso dos aeroportos, tempos atrás, todas as aeronaves atrasassem sistematicamente. Ou que certa fábrica entrou em greve.

Num detalhe, porém, o presidente Lula parece ter razão, porque os telejornais de quase todas as redes estão exagerando. Mesmo não se tratando dos programas especializados, mais da metade do noticiário é tomado pelo noticiário policial. Assassinatos, crimes, maus-tratos e violência viraram permanentes temas de todo dia. Valeria que um sociólogo examinasse a questão mais a fundo: será isso o que o telespectador quer? Na disputa pela audiência, o "quanto pior, melhor" deve ser a regra?
Perdendoa corrida

Para ficar na comunicação social, vale registrar que às duas e meia da madrugada de quarta-feira, hora de Brasília, quem estava acordado tomou conhecimento da vitória definitiva de Barack Obama. Foi quando apareceu nas telinhas o perdedor, John McCain, reconhecendo a derrota.

O cidadão acostumado a acompanhar a política internacional já estava de pijama, foi deitar, mas botou o despertador para bem cedo, quando iria à banca da esquina comprar os principais jornais. Queria ler os editoriais, os principais comentaristas e as reportagens analisando o resultado das eleições. Ledo engano. Nenhum dos nossos jornalões publicou sequer quem havia sido eleito.

São coisas do mundo industrial, os jornais fecham antes da meia-noite para poder enfrentar os concorrentes e chegar primeiro aos leitores. Nesse mundo cada vez mais avançado em tecnologia, estão perdendo a corrida para a imprensa eletrônica e para a parafernália dos computadores, blogs, e-mails e sucedâneos.
Outras espécies em extinção

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lançou o "Livro vermelho" do ambientalismo, relacionando 627 espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. São jaguatiricas, papagaios, araras, caranguejos, tatus e muitos outros. A iniciativa, digna de louvores, deveria ser seguida por uma ampliação para fora do mundo animal. Porque muitas espécies também se encontram na mesma situação, na política, na administração e demais setores.

Por exemplo: estão em extinção parlamentares completamente éticos, assim como ministros acima de qualquer suspeita. Ou empresários dedicados ao bem-estar de seus trabalhadores. Quem quiser que acrescente seus candidatos a essa lista...
Compreensões históricas

Arriscou-se o ministro da Justiça, Tarso Genro, quando quis separar tortura de terrorismo, acentuando que este é compreensível historicamente. Repetiria isso diante de representantes dos parentes das mais de seis mil vítimas do ataque às Torres Gêmeas de Nova York? Ou dos pais do sentinela que foi explodido num quartel de São Paulo, décadas atrás? Que tal aos filhos dos agentes de segurança executados durante a temporada de seqüestro de embaixadores, no Rio? Violência não, repetia Gandhi. Tortura também não, dizia D. Helder Câmara. São igualmente incompreensíveis.