segunda-feira, 21 de abril de 2008

Lugo faz história no Paraguai e abre uma era de esperança e incertezas

21/04/2008 - 01h39




21/04/2008 - 01h39
Lugo faz história no Paraguai e abre uma era de esperança e incertezas

De Jesús A. Rey, da EFE
Em Assunção

O ex-bispo progressista Fernando Lugo conseguiu a façanha histórica de terminar com seis décadas de Governo absoluto do Partido Colorado, com o que se abre para o Paraguai um futuro de esperança, mas também de incertezas.

Uma figura emergente na política nacional como Lugo alcançou uma vitória inquestionável, o que nunca a oposição conseguiu fazer, principalmente o tradicional Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), durante 61 anos e especialmente após o final da longa ditadura do "colorado" Alfredo Stroessner, em 1989.

Com um país imerso na pobreza e no desemprego -que fez com que centenas de milhares de paraguaios emigrem- o ex-bispo da diocese de São Pedro (centro) surgiu há dois anos como uma das últimas esperanças para unir a oposição.

Se não conseguiu como era sua intenção uma união de todos os descontentes, há oito meses o bispo sancionado "a divinis" pela Santa Sé -que significa, segundo o Código de Direito Canônico, que o bispo continua obrigado aos seus deveres, embora esteja suspenso de seu ministério- aglutinou a direita representada pelo PLRA com cerca de 30 grupos de esquerda e organizações sociais.

Seu discurso promissor de união de todos os paraguaios para buscar o bem comum se plasmou primeiro em um amplo espectro ideológico que o levou neste domingo à vitória, em uma chapa com o líder do PLRA, Federico Franco, um confesso admirador de líderes conservadores como o espanhol José María Aznar.

Lugo terá que aliar em primeiro lugar projetos tão diversos como o de Franco e outros setores mais ao centro do PLRA, aos de grupos esquerdistas como o movimento radical Tekojoja ou o Partido do Movimento ao Socialismo (P-MAS), favoráveis a políticas como a do venezuelano Hugo Chávez ou do boliviano Evo Morales.

A espontânea concentração de milhares de pessoas, a maioria jovens, que tomaram o centro de Assunção na noite do domingo ao ser divulgada a vitória do ex-bispo, foi um sinal da esperança dos paraguaios ao receberam a mudança e também a ansiada queda dos "colorados".

Em suas primeiras declarações como futuro presidente, o ex-bispo insistiu na nova era da política nacional "sem clientelismos nem sectarismo", mas tudo dependerá da composição do novo Parlamento.

O Partido Colorado quase com segurança voltará a formar grupos fortes em ambas as câmaras, mas como bem sabe o atual presidente Nicanor Duarte, nem sempre votam em bloco pela diversidade de facções internas da legenda.

Duarte, ao reconhecer a derrota de sua candidata Blanca Ovelar, anunciou que o Partido Colorado, do qual é presidente licenciado, fará o possível para recuperar o poder o quanto antes possível, vaticinando uma oposição ferrenha ao próximo Governo.

Como os colorados, os parlamentares do PLRA, a segunda força no país, também não se destacam por sua fidelidade partidária.

Outro dos atores políticos com forte influência no próximo Congresso deve o general reformado Lino Oviedo, que hoje não conseguiu seu sonho de ser presidente do Paraguai, mas que com seu fiel grupo parlamentar pode se transformar em uma figura decisiva para a governabilidade do país.

Antes de assumir a Presidência no dia 15 de agosto próximo, Lugo terá que meditar muito e usar de toda reconhecida paciência para poder formar seu Governo, que já adiantou será integrado "pelos melhores, sem distinção de cores".

Outra dúvida a ser esclarecida nos próximos meses é a relação de Lugo com os vizinhos, especialmente com o Brasil, por causa de sua reivindicação sobre os benefícios da hidrelétrica de Itaipu. O Brasil se nega a renegociar o tratado de exploração do usina, apesar da afinidade ideológica de Lugo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Também existe expectativa com a posição do Vaticano pela rebeldia
de quem considera ainda bispo e agora futuro presidente de um país
com ampla maioria católica, religião à qual o futuro governante não
renuncia.
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