segunda-feira, 21 de abril de 2008




21/04/2008 - 14h02
Fernando Lugo diz "ter fé" em renegociação do Tratado de Itaipu com o Brasil
Carolina Juliano
Enviada especial do UOL
Em Assunção
"Como um homem de fé e esperança que sou, estou convencido de que chegaremos a um acordo com o Brasil sobre o tratado de Itaipu." Assim falou o presidente eleito no Paraguai, Fernando Lugo, aos jornalistas brasileiros que recebeu em sua casa na manhã desta segunda-feira (21), um dia após as eleições.

"O presidente Lula nos deu um sinal importante quando abriu a possibilidade de sentarmos todos a uma mesa, tendo posições diferentes, para entendermos a administração de Itaipu, o tratado, a transmissão da energia, o que significa o conceito de 'preço justo', o acordo de Foz do Iguaçu de 1966", disse Lugo. "Agora a primeira medida que devo tomar como presidente é formar uma equipe de técnicos capacitados para discutir o assunto, porque o próprio Lula nos disse que até os técnicos divergem nos números de Itaipu." Apesar da declaração de Lugo, o presidente Lula afirmou hoje que não vai rever o tratado. Depois que Lula falou, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), afirmou que o reajuste do valor pago ao Paraguai por energia excedente não está descartado.


AFP

Nome Fernando Armindo Lugo Méndez
Nascimento: 30 de maio de 1951
Local: San Pedro del Paraná
Partido: Aliança Patriótica para a Mudança
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Lugo nega que pretenda tomar qualquer medida extrema, como fez Evo Morales, na Bolívia, ao nacionalizar as petrolíferas estrangeiras e aumentar o preço do gás. "A questão é diferente. O tratado com o Brasil é binacional. A Bolívia não tinha uma relação binacional, mas sim o contrato com uma empresa. A nossa relação com o Brasil é de país para país, de Estado para Estado, e tomara que isso possa facilitar a busca de um consenso que seja melhor para as duas partes."

Aguardar 2023 não nos interessa
O que resta ao Paraguai, caso o Brasil se negue a renegociar o Tratado, é aguardar até 2023, quando se encerra o contrato e a obrigação de o Paraguai vender seu excedente em energia para o Brasil. "Essa opção não convém aos paraguaios", disse Lugo. "Por isso vamos buscar uma saída racionalmente justa e não acredito que hoje nenhum governo da região pode se aferrar à irracionalidade, ou à unilateralidade."

O presidente eleito no pleito realizado neste domingo não acredita que o seu país tenha que vir a recorrer a instâncias jurídicas internacionais para garantir os seus direitos em Itaipu. "Não queremos ir tão longe nem tão alto", disse ele quando indagado se poderia recorrer ao tribunal de Haia. "Não iremos para fora enquanto não esgotarmos os meios de diálogos locais. Em primeiro lugar está a conversa entre Brasil e Paraguai e podemos buscar, ainda, se for o caso, algum país da região para mediar as negociações."

País mediador
Fernando Lugo diz não saber ainda que país da América Latina teria as credenciais para ser um mediador. Disse apenas que teria que ser uma nação que fosse da confiança das duas partes. "Acredito que devemos buscar aqui, dentro de casa, na integração regional, a solução para conflitos que se apresentem no interior destes países. Eu confio na racionalidade do governo brasileiro e o governo Lula nos deu uma abertura que não observamos em nenhuma outra ocasião, em 30 anos."

O presidente eleito pela Aliança Patriótica para Mudança, que em várias ocasiões no decorrer de sua campanha deixou clara a sua visão do Brasil como um país imperialista, em seu primeiro dia como presidente da República diz que não compartilha deste sentimento. "Alguns setores da sociedade vêem o Brasil assim e é preciso respeitar essa visão, dar liberdade a essas pessoas", disse ele. "As relações do Brasil com o Paraguai são historicamente marcadas, mas acredito que temos que aprofundar e melhorar essas relações. Construir relações mais fraternas, mais justas e solidárias."

Transição 'sem violência nem sangue'
Sentado em um sofá azul, cercado de uma dezena de jornalistas brasileiros e com outros tantos estrangeiros à espera do lado de fora da casa onde vive, na rua Nuñez de Balboa, esse ex-bispo católico que colocou fim a mais de seis décadas de domínio do Partido Colorado em seu país, enalteceu, sobretudo, a forma pacífica como decorreram as eleições deste domingo. Além disso, Lugo diz ter se surpreendido com a forma como seus opositores pacificamente reconheceram a sua vitória.

"Será a primeira vez na história deste país que haverá uma transição de poder de um partido para outro pacificamente, sem violência nem sangue", disse ele. "Estamos satisfeitos, sobretudo, por ter sido uma eleição participativa e pelo atual governo estar preparando e facilitando uma transição pacífica."

"Agora que consolidamos a nossa ousadia de querer ser governo, com apenas oito meses de formação dessa aliança, vamos reparar as fissuras, as deficiências e falências dessa união. Precisamos consolidá-la e ter unidade para estarmos preparados para governar."

Princípios e valores
Fernando Lugo diz que vai compor o seu gabinete de acordo com "princípios e valores". "O Paraguai tem um histórico de composição de governos segundo o partido. Dividir ministérios entre os partidos que formam um governo de coalizão. Isso já se provou ineficiente. Por isso pretendemos priorizar as pessoas capazes, mais idôneas, honestas e patrióticas, independentemente do partido a que pertença."

Na parede da sala daquela casa que tem apenas um quarto, um pequeno depósito, cozinha e um estúdio no andar de cima, um quadro traz os dizeres "o mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos". Nenhuma frase expressaria melhor o ânimo de Fernando Lugo no primeiro dia em que se levantou da cama como presidente da República paraguaia.

* do UOL Últimas Notícias

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